A farmer carries heavy loads of dried branches under a scorching sun

O stresse térmico afeta cada vez mais trabalhadores em todo o mundo

O calor é um assassino silencioso que ameaça a saúde e a vida de um número crescente de trabalhadores em todo o mundo, segundo um relatório da OIT.

25 de julho de 2024

Heat stress impact agriculture workers in greenhouses in Jalisco, Mexico © Rafael Duarte / ILO

GENEBRA (Notícias da OIT) – Um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Heat at work: Implications for safety and health, alerta para a exposição ao calor excessivo e ao stresse térmico por um número cada vez maior de trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo.  Os dados mais recentes revelam que até mesmo regiões que antes não eram afetadas por elevadas temperaturas ou ondas de calor, enfrentarão riscos acrescidos. Por outro lado, os trabalhadores e trabalhadoras das regiões de climas tradicionalmente quentes, irão confrontar-se com condições de trabalho cada vez mais perigosas. 

O stresse térmico é um assassino invisível e silencioso que pode ter impactos imediatos na saúde, agravando o risco de doenças, cardíacas, pulmonares e renais podendo inclusive, a exposição a este risco, ser fatal, sublinha o estudo.

A nível mundial, o relatório destaca que é em África, nos Estados Árabes e na Ásia e Pacífico que os trabalhadores e as trabalhadoras estão mais frequentemente  expostos ao calor excessivo. Nestas regiões, 92,9 por cento, 83,6 por cento e 74,7 por cento da população ativa é afetada, respetivamente. Estes valores são superiores à média das exposições mundiais, na ordem dos 71 por cento, de acordo com as estimativas mais recentes disponíveis (2020). 

Segundo o relatório, é na Europa e na Ásia Central que se registam as mudanças mais rápidas nas condições de trabalho. De 2000 a 2020, a região registou o maior aumento das exposições ao calor excessivo, com um aumento da percentagem de trabalhadores e trabalhadoras afetadas na ordem dos 17,3 por cento, quase o dobro do aumento médio a nível mundial.

Entretanto, é no continente americano, na Europa e na Ásia Central que se regista o maior aumento de lesões (devidas a acidentes ou doenças) relacionados com o trabalho provocadas pelo stresse térmico desde o ano 2000, com aumentos de 33,3 por cento e 16,4 por cento, respetivamente. 

As estimativas a nível mundial deste estudo, indicam que 4 200 trabalhadores e trabalhadoras perderam a vida devido a ondas de calor em 2020. No total, 231 milhões de pessoas foram expostas a ondas de calor em 2020 durante o trabalho, o que representa um aumento de 66 por cento em relação a 2000. No entanto, o relatório sublinha que nove em cada dez pessoas a nível mundial foram expostas ao calor excessivo sem contar com as exposições a ondas de calor e oito em cada dez lesões profissionais causadas por calor extremo, não ocorreram durante ondas de calor. 

A exposição ao calor excessivo tem originado desafios sem precedentes para os trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo durante todo o ano, e não apenas durante os períodos de ondas de calor intensas

“Enquanto o mundo continua a debater-se com o aumento das temperaturas, temos o dever proteger os trabalhadores e as trabalhadoras, do stresse térmico. A exposição ao calor excessivo tem originado desafios sem precedentes para os trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo durante todo o ano, e não apenas durante os períodos de ondas de calor intensas afirmou o diretor-geral da OIT, Gilbert Houngbo.

A melhoria das condições de segurança e saúde orientadas para a prevenção de lesões causadas pelo calor excessivo nos locais de trabalho poderia poupar até 361 mil milhões de dólares a nível mundial – relativos a perdas de rendimentos e despesas com cuidados de saúde - a frequência e intensidade do stresse térmico aumentam, mas as regiões do mundo são afetadas de forma diferente, sublinha o estudo. 

As estimativas da OIT indicam que as economias de baixo e médio rendimento, em particular, são as mais afetadas, uma vez que os custos com as lesões provocadas pela exposição ao calor excessivo no trabalho, podem atingir cerca de 1,5 por cento do PIB nacional.

“Estamos perante uma questão de direitos humanos e de direitos dos trabalhadores, e económica, e os maiores custos são atualmente suportados pelas economias de rendimento médio. Necessitamos de planos de ação contra a exposição ao calor durante todo o ano, e de legislação para proteger quem trabalha, bem como de uma cooperação internacional mais forte entre especialistas, para harmonizar as avaliações e intervenções sobre o stresse térmico no trabalho”, acrescentou Gilbert Houngbo.

“O impacto do calor nos trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo está a tornar-se rapidamente um problema global, que exige ação.

“Se há uma coisa que une o nosso mundo dividido, é o facto de estarmos todos a sentir cada vez mais o calor.  A Terra está a ficar mais quente e mais perigosa para todas as pessoas, em todo o lado.  Temos de enfrentar o desafio do aumento das temperaturas e reforçar a proteção dos trabalhadores e das trabalhadoras, com base nos direitos humanos”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres. 

O relatório da OIT analisou as medidas legislativas adotadas por 21 países para encontrar características comuns que possam orientar a criação de planos eficazes com vista à segurança térmica nos locais de trabalho. Também descreve os conceitos-chave de um sistema de gestão de segurança e saúde para proteção contra doenças e acidentes relacionados com a exposição ao calor.

As conclusões baseiam-se num relatório anterior, publicado em abril deste ano, que indicava que as alterações climáticas estavam a criar um “cocktail” de riscos graves para a saúde de cerca de 2,4 mil milhões de trabalhadores e trabalhadoras por exposição ao calor excessivo. O relatório de 28 de abril indicava que o calor excessivo provoca, por si só, 22,85 milhões de lesões profissionais e a perda de 18 970 vidas por ano.

África

  • As exposições profissionais ao calor excessivo em África foram superiores à média a nível mundial, afetando 92,9 por cento da mão de obra.
  • O continente africano tem a maior proporção de acidentes de trabalho atribuíveis ao calor excessivo, representando 7,2 por cento do total de lesões profissionais.

América

  • O continente americano registou o aumento mais rápido de lesões profissionais relacionadas com o calor desde o ano 2000, com um aumento de 33,3 por cento. 
  • A mesma região também evidenciou  um valor significativo de acidentes de trabalho originados pela exposição ao calor excessivo, que ascende a 6,7 por cento.

Estados Árabes

  • A exposição profissional ao calor excessivo nos locais de trabalho nos Estados Árabes foi superior à média a nível mundial, afetando 83,6 por cento da mão de obra.

Ásia e Pacifico

  • A exposição profissional ao calor excessivo na Ásia e no Pacífico registaram valores acima da média a nível mundial, afetando 74,7 por cento da mão de obra.

Europa e Ásia Central

  • A Europa e Ásia Central registaram o maior aumento na exposição ao calor excessivo, com um aumento de 17,3 por cento entre 2000 e 2020, quase o dobro do aumento médio a nível mundial de 8,8 por cento.
  • A região tem visto um rápido aumento na taxa acidentes de trabalho relacionados com a exposição ao calor desde 2000, com um aumento de 16,4 por cento.

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